Sobre Ipês Amarelos
- Gorki Silva
- 6 de set. de 2012
- 2 min de leitura

Vou escrever uma carta para o Rubem Alves.
“O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês amarelos”, disse um garoto para um inspetor de uma escola, ao ser perguntado sobre quem era Rubem Alves. Está escrito em seu livro PIMENTA Para provocar incêndio, não é preciso fogo.
Estava lendo este livro, hoje pela manhã, ainda havia um pálido registro da madrugada com o sol ainda generoso, e bateu saudade de Brasília. Um momento de nostalgia. Em Brasília tem muitas áreas verdes, parques, alamedas, caminhos de flores e muitos ipês - amarelos, roxos. Os ipês são lindos. Eu os observava da minha janela lá do alto do edifício, como um pássaro querendo fugir. Depois retornava ao meu canto triste, frente ao computador a fazer coisas práticas, da vida. Em Brasília não tem mar, mas tem um verde que se perde ao longe – um mar verde e nele os ipês são soberanos! Pelo menos para mim.
Foi o Rubem Alves que me apresentou os ipês. Em Fortaleza não tem muitos, pelo menos eu não os vejo com frequência. Talvez porque tenha ficado no passado os motivos da minha saudade. Hoje estou próximo daqueles a quem amo, procuro matar aquela saudade todos os dias, lentamente!
No livro que eu citei, lá no início, tem um capítulo com o título Os Ipês Amarelos. No final ele escreve (permita-me poeta, que eu transcreva, pois não seria capaz de transmitir com as minhas palavras os sentimentos ali expressos), pois bem, ele diz:
“Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês amarelos...”
Há algum tempo pensei escrever uma carta para o Rubem Alves. Uma carta verdadeira, em papel de carta, com envelope selado, enviada pelos correios. Espero que ela fique guardada em algum baú de suas recordações. Nela, diria que aqui em Fortaleza vejo poucos ipês, mas leio muito sobre eles em seus livros. E quando isso acontece, sinto que estou muito próximo dele, em contato com a sua infância, com a sua poesia, com o encanto de suas ideias - é algo mágico!
Vou dizer que há sempre há um livro seu por perto, e sempre existirão ipês!
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